O SAPO
Era uma vez um lindo príncipe por quem
todas as moças se apaixonavam. Por ele também
se apaixonou a bruxa horrenda que o pediu em
casamento. O príncipe nem ligou e a bruxa ficou
muito brava. “Se não vai casar comigo não vai se
casar com ninguém mais!” Olhou fundo nos olhos
dele e disse: “Você vai virar um sapo!” Ao ouvir
esta palavra o príncipe sentiu estremeção. Teve
medo. Acreditou. E ele virou aquilo que a palavra
feitiço tinha dito. Sapo. Virou um sapo.
(ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. Ars Poética, 1994.)
01 No trecho “O príncipe NEM LIGOU e a bruxa
ficou muito brava.”, a expressão destacada
significa que
(A) não deu atenção ao pedido de casamento.
(B) não entendeu o pedido de casamento.
(C) não respondeu à bruxa.
(D) não acreditou na bruxa.
Vínculos, as equações da matemática da vida
Quando você forma um vínculo com
alguém, forma uma aliança. Não é à toa que o
uso de alianças é um dos símbolos mais
antigos e universais do casamento. O círculo
dá a noção de ligação, de fluxo, de
continuidade. Quando se forma um vínculo, a
energia flui. E o vínculo só se mantém vivo se
essa energia continuar fluindo. Essa é a ideia
de mutualidade, de troca.
Nessa caminhada da vida, ora andamos
de mãos dadas, em sintonia, deixando a
energia fluir, ora nos distanciamos. Desvios
sempre existem. Podemos nos perder em um
deles e nos reencontrar logo adiante. A busca
é permanente. O que não se pode é ficar
constantemente fora de sintonia.
Antigamente, dizia-se que as pessoas
procuravam se completar através do outro,
buscando sua metade no mundo. A equação
era: 1/2 + 1/2 = 1.
"Para eu ser feliz para sempre na vida,
tenho que ser a metade do outro." Naquela
loteria do casamento, tirar a sorte grande era
achar a sua cara-metade.
Com o passar do tempo, as pessoas foram
desenvolvendo um sentido de individualização
maior e a equação mudou. Ficou: 1 + 1= 1.
"Eu tenho que ser eu, uma pessoa inteira,
com todas as minhas qualidades, meus
defeitos, minhas limitações. Vou formar uma
unidade com meu companheiro, que também
é um ser inteiro." Mas depois que esses dois
seres inteiros se encontravam, era comum
fundirem-se, ficarem grudados num
casamento fechado, tradicional. Anulavam-se
mutuamente.
Com a revolução sexual e os movimentos
de libertação feminina, o processo de
individuação que vinha acontecendo se
radicalizou. E a equação mudou de novo:
1 + 1= 1 + 1.
Era o "cada um na sua". "Eu tenho que
resolver os meus problemas, cuidar da minha
própria vida. Você deve fazer o mesmo. Na
minha independência total e autossuficiência
absoluta, caso com você, que também é
assim." Em nome dessa independência, no
entanto, faltou sintonia, cumplicidade e
compromisso afetivo. É a segunda crise do
casamento que acompanhamos nas décadas
de 70 e 80.
Atualmente, após todas essas
experiências, eu sinto as pessoas procurando
outro tipo de equação: 1 + 1 = 3.
Para a aritmética ela pode não ter lógica,
mas faz sentido do ponto de vista emocional e
existencial. Existem você, eu e a nossa
relação. O vínculo entre nós é algo diferente
de uma simples somatória de nós dois. Nessa proposta de casamento, o que é meu é meu,
o que é seu é seu e o que é nosso é nosso.
Talvez aí esteja a grande mágica que hoje
buscamos, a de preservar a individualidade
sem destruir o vínculo afetivo. Tenho que
preservar o meu eu, meu processo de
descoberta, realização e crescimento, sem
destruir a relação. Por outro lado, tenho que
preservar o vínculo sem destruir a
individualidade, sem me anular.
Acho que assim talvez possamos chegar
ao ano 2000 um pouco menos divididos entre
a sede de expressão individual e a fome de
amor e de partilhar a vida. Um pouco mais
inteiros e felizes.
Para isso, temos que compartilhar com
nossos companheiros de uma verdadeira
intimidade. Ser íntimo é ser próximo, é estar
estreitamente ligado por laços de afeição e
confiança.
(MATARAZZO, Maria Helena. Amar é preciso. 22.
ed. São Paulo: Editora Gente, 1992. p. 19-21)
02 O texto trata PRINCIPALMENTE
(A) da exatidão da matemática da vida.
(B) dos movimentos de libertação feminina.
(C) da loteria do sucesso no casamento.
(D) do casamento no passado e no presente.
03 No texto, no casamento, atualmente, defende-se
a ideia de que
(A) a felicidade está na somatória do casal.
(B) a unidade é igual à soma das partes.
(C) o ideal é preservar o “eu” e o vínculo
afetivo.
(D) o melhor é cada um cuidar de sua própria
vida.
As Amazônias
Esse tapete de florestas com rios azuis
que os astronautas viram é a Amazônia. Ela
cobre mais da metade do território brasileiro.
Quem viaja pela região, não cansa de admirar
as belezas da maior floresta tropical do
mundo. No início era assim: água e céu.
É mata que não tem mais fim. Mata
contínua, com árvores muito altas, cortada
pelo Amazonas, o maior rio do planeta. São
mais de mil rios desaguando no Amazonas. É
água que não acaba mais.
SALDANHA, P. As Amazônias. Rio de Janeiro:
Ediouro, 1995.
04 No texto, o uso da expressão “água que não
acaba mais” revela
(A) admiração pelo tamanho do rio.
(B) ambição pela riqueza da região.
(C) medo da violência das águas.
(D) surpresa pela localização do rio.
05 O texto trata
(A) da importância econômica do rio
Amazonas.
(B) das características da região Amazônica.
(C) de um roteiro turístico da região do
Amazonas.
(D) do levantamento da vegetação amazônica.
06 A frase que contém uma opinião é
(A) “cobre mais da metade do território
brasileiro”.
(B) “não cansa de admirar as belezas da maior
floresta”.
(C) “...maior floresta tropical do mundo”.
(D) “é Mata contínua [...] cortada pelo
Amazonas”.
O boto e a Baía da Guanabara
Piraiaguara sentiu um grande orgulho de
ser carioca. Se o Atobá Maroto tinha dado
nome para as ilhas, ele e todos os outros
botos eram muito mais importantes. Eles
eram o símbolo daquele lugar privilegiado: a
cidade do Rio de Janeiro.
⎯ A “mui leal e heróica cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro”.
Piraiaguara fazia questão de lembrar do
título, e também de toda a história da cidade e
da Baía de Guanabara.
Os outros botos zombavam dele:
⎯ Leal? Uma cidade que quase acabou
conosco, que poluiu a baía? Heroica? Uma
cidade que expulsou as baleias, destruiu os
mangues e quase não nos deixou sardinhas
para comer? Olha aí para o fundo e vê quanto
cano e lixo essa cidade jogou aqui dentro!
⎯ Acorda do encantamento, Piraiaguara!
O Rio de Janeiro e a Baía de
Guanabara foram bonitos sim, mas isso foi há
muito tempo. Não adianta ficar suspirando
pela beleza do Morro do Castelo, ou pelas
praias e pela mata que desapareceram. Olha
que, se continuar sonhando acordado, você
vai acabar sendo atropelado por um navio!
O medo e a tristeza passavam por ele
como um arrepio de dor. Talvez nenhum outro
boto sentisse tanto a violência da destruição
da Guanabara. Mas, certamente, ninguém
conseguia enxergar tão bem as belezas
daquele lugar.
Num instante, o arrepio passava, e a
alegria brotava de novo em seu coração.
HETZEL, B. Piraiaguara. São Paulo: Ática, 2000.
p. 16 – 20.
07 Os outros botos zombavam de Piraiaguara,
porque ele
(A) conhecia muito bem a história do Rio de
Janeiro.
(B) enxergava apenas o lado bonito do Rio de
Janeiro.
(C) julgava os botos mais importantes do que
os outros animais.
(D) sentia tristeza pela destruição da Baía da
Guanabara.
08 O fato que provoca a discussão entre as
personagens é
(A) a escolha de nomes de botos para as ilhas.
(B) a história da cidade do Rio de Janeiro.
(C) o orgulho do boto pela cidade do Rio de
Janeiro.
(D) os perigos do Rio de Janeiro para os
botos.
09 Em “
se continuar sonhando acordado, você vai
acabar sendo atropelado por um navio!”, o termo sublinhado estabelece, nesse
trecho, relação de
(A) causa.
(B) concessão.
(C) condição.
(D) tempo.
O Encontro
(fragmento)
Em redor, o vasto campo. Mergulhado em
névoa branda, o verde era pálido e opaco.
Contra o céu, erguiam-se os negros
penhascos tão retos que pareciam recortados
a faca. Espetado na ponta da pedra mais alta,
o sol espiava atrás de uma nuvem.
“Onde, meu Deus?! – perguntava a mim
mesma – Onde vi esta mesma paisagem,
numa tarde assim igual?”
Era a primeira vez que eu pisava naquele
lugar. Nas minhas andanças pelas
redondezas, jamais fora além do vale. Mas
nesse dia, sem nenhum cansaço, transpus a
colina e cheguei ao campo. Que calma! E que
desolação. Tudo aquilo – disso estava bem
certa – era completamente inédito pra mim.
Mas por que então o quadro se identificava,
em todas as minúcias, a uma imagem
semelhante lá nas profundezas da minha
memória? Voltei-me para o bosque que se
estendia à minha direita. Esse bosque eu
também já conhecera com sua folhagem cor
de brasa dentro de uma névoa dourada. “Já vi
tudo isto, já vi...Mas onde? E quando?”
Fui andando em direção aos penhascos.
Atravessei o campo. E cheguei à boca do
abismo cavado entre as pedras. Um vapor
denso subia como um hálito daquela garganta
de cujo fundo insondável vinha um
remotíssimo som de água corrente. Aquele
som eu também conhecia. Fechei os olhos.
“Mas se nunca estive aqui! Sonhei, foi isso?
Percorri em sonho estes lugares e agora os
encontro palpáveis, reais? Por uma dessas
extraordinárias coincidências teria eu
antecipado aquele passeio enquanto dormia?”
Sacudi a cabeça, não, a lembrança – tão
antiga quanto viva – escapava da
inconsciência de um simples sonho.[...]
TELLES, Lygia Fagundes. Oito contos de
amor. São Paulo: Ática.
10 Na frase“ Já vi tudo isso, já vi...Mas onde?”, o uso das reticências sugere
(A) impaciência.
(B) impossibilidade.
(C) incerteza.
(D) irritação.
Seja criativo: fuja das desculpas
manjadas
Entrevista com teens, pais e psicólogos
mostram que os adolescentes dizem sempre
a mesma coisa quando voltam tarde de uma
festa. Conheça seis desculpas entre as mais
usadas. Uma sugestão: evite-as. Os pais
não acreditam.
⎯ Nós tivemos que ajudar uma senhora
que estava passando muito mal. Até o
socorro chegar... A gente não podia deixar a
pobre velhinha sozinha, não é?
⎯ O pai do amigo que ia me trazer
bateu o carro. Mas não se preocupem,
ninguém se machucou!
⎯ Cheguei um minuto depois do ônibus
ter partido. Aí tive de ficar horas esperando
uma carona...
⎯ Você acredita que o meu relógio
parou e eu nem percebi?
⎯ Mas vocês disseram que hoje eu
podia chegar tarde, não se lembram?
⎯ Eu tentei avisar que ia me atrasar,
mas o telefone daqui só dava ocupado!
11 De acordo com o texto, os pais não acreditam
em
(A) adolescentes.
(B) psicólogos.
(C) pesquisas.
(D) desculpas.
Duas Almas
Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens
cansada,
entra, e sob este teto encontrarás carinho:
eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada...
A neve anda a branquear, lividamente, a
estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.
E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!
Já não serei tão só, nem irás tão sozinha.
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...
WAMOSY, Alceu. Livro dos sonetos. L&PM.
12 No verso “e a minha alcova tem a
tepidez de um
ninho”, a expressão sublinhada dá sentido
de um lugar
(A) aconchegante.
(B) belo.
(C) brando.
(D) elegante.
Texto I
A criação segundo os índios Macuxis
No início era assim: água e céu.
Um dia, um Menino caiu na água. O sol
quente soltou a pele do Menino. A pele
escorregou e formou a terra. Então, a água
dividiu o lugar com a terra.
E o Menino recebeu uma nova pele cor de
fogo.
No dia seguinte, o Menino subiu numa
árvore. Provou de todos os frutos. E jogou todas
as sementes ao vento. Muitas sementes caíram
no chão. E viraram bichos. Muitas sementes
caíram na água. E viraram peixes. Muitas
sementes continuaram boiando no vento. E
viraram pássaros.
No outro dia, o Menino foi nadar.
Mergulhou fundo. E encontrou um peixe ferido. O
peixe explodiu. E da explosão surgiu uma
Menina.
O Menino deu a mão para a Menina. E
foram andando. E o Menino e a Menina foram
conhecer os quatro cantos da Terra.
Texto II
A criação segundo os negros Nagôs
Olorum. Só existia Olorum. No início, só
existia Olorum.
Tudo o mais surgiu depois.
Olorum é o Senhor de todos os seres.
Certa vez, conversando com Oxalá,
Olorum pediu:
– Vá preparar o mundo!
E ele foi. Mas Oxalá vivia sozinho e
resolveu casar com Odudua. Deste casamento,
nasceram Aganju, a Terra Firme, e Iemanjá,
Dona das Águas. De Iemanjá, muito tempo
depois, nasceram os Orixás.
Os Orixás são os protetores do mundo.
BORGES, G. et al. Criação. Belo Horizonte: Terra, 1999.
13 Comparando-se essas duas versões da criação
do mundo, constata-se que
(A) a diferença entre elas consiste na relação
entre o criador e a criação.
(B) a origem do princípio religioso da criação
do mundo é a mesma nas duas versões.
(C) as divindades, em cada uma delas, têm
diferentes graus de importância.
(D) as diferenças são apenas de nomes em
decorrência da diversidade das línguas
originárias.
GABARITO:
1 A - DESCRITOR 3
2 D - DESCRITOR 6
3 C - DESCRITOR 7
4 A - DESCRITOR 18
5 B - DESCRITOR 6
6 B - DESCRITOR 14
7 B - DESCRITOR 11
8 C - DESCRITOR 10
9 C - DESCRITOR 15
10 C - DESCRITOR 17
11 D - DESCRITOR 1
12 A - DESCRITOR 3
13 A - DESCRITOR 21